sexta-feira, agosto 18

Ludovico Arrighi, dito Vicentino


Livreiro, editor, impressor e desenhador de tipos que trabalhou em Roma no primeiro quartel do século XVI. Também trabalhou em Veneza, em 1523, onde imprimiu em associação com o gravador Eustachio Celebrino a obra "Il modo de temperare le penne". Os tipos que criou são particularmente elegantes e exerceram muita influência na criação de outros tipos itálicos desenhados durante o século XVI. Ao lado, marca de impressor de Arrighi.

É quase uma vergonha um post tão pequeno para um nome tão importante na história, não só da tipografia, mas da caligrafia também. Juntamente com os nomes de Nicolo Nicolli e Aldus Manutius, Arrighi é uma das pedras base por onde se ergueu o sólido edificio da escrita humanista, enterrando em seu arcabouço de onde não pode levantar-se nunca mais a escrita gótica. Para citar com justiça Arrighi na história da tipografia, ao invés de um post iremos iniciar uma série de pequenos posts com mais links e material sobre a obra dele, inclusive fontes produzidas ou em produção pela Intellecta, como por exemplo a VOLITIVA..

É possível que sua obra mais famosa seja a "Operina", que é um manual completo de caligrafia humanistica. Esta Operina tem ao menos duas versões digitais modernas (existe uma terceira que estamos pesquisando, mas não me lembro a foundry criadora no momento), uma da P22 e outra do professor e designer islandes Brian Ismment. Ismment mantém um site de caligrafia e tipografia muito didático e é professor de design da Royal Academy Dinamarquesa. Seu site islandes (em ingles) é dos mais didáticos que voce possa imaginar. Ao lado, frontispicio da "Operina".

Sobre Arrighi e sua influencia leia o texto de Antonio Houaiss:

"As deficiências caligráficas dos itálicos aldinos são ostensivas, quando cotejadas com os que foram desenhados em Roma por um impressor da Chancelaria vaticana, LUDOVICO ARRIGHI, dito VICENTINO, e impressos pelo ourives BARTHOLOMEO DEI ROTELLI, de Perúsia. A fama do itálico aldino decorre da prioridade no tempo, mas o itálico de ARRIGHI é muito melhor de desenho, mais grácil, mais legível e foi de influencia mais duradoura. A forma do itálico hoje em dia empregada em conexão com o old face provem, de ARRIGHI. A extensão do uso dos tipos itálicos talhados segundo o modelo de ARRIGHI preparou sua utilização pelos impressores de Paris, ROBERT ESTIENNE e SIMON DE COLINES. Um cotejo do itálico de COLINES remonta a sua origem diretamente ao de ARRIGHI (cf ENBR, s.v. printing type).

Garamond, ao idear o seu romano, tinha evidentemente diante de si o De Aetna como modelo, e os trabalhos de ARRIGHI, quanto ao itálico. E os artífices e artesãos do seu tempo uniram esses dois tipos originalmente independentes numa fonte única, do que proveio a tradição de haver numa só fonte romanos e itálicos. Esses desenhos franceses são a origem dos old faces ou old styles ingleses, espanhóis, portugueses - cuja introdução na Inglaterra foi com JOHN DAY e que ficou sendo característico dos impressores ingleses, através dos desenhos de VOSKENS, VAN DYCK e CASLON, até o advento de BASKERVILLE e dos desenhistas modernos. Se os primeiros tipos de GARAMOND foram ou não por ele desenhados ou em colaboração com GEOFFREY TORY é questão aberta, embora a hipótese de colaboração seja credenciada por autoridades. A bela Biblia in folio (1532) de ROBERT ESTIENNES, cuja colaboração tipográfica deve ter levado entre três a quatro anos, revela talvez o mais inteligente uso desta fonte. O tipo Garamond rapidamente se projetou e em curto prazo repercutiu nas tipografias de Veneza e Florença. Destarte, pelos meados do século XVI o Garamond lograra alijar o desenho veneziano, que, como se viu, se origina dos DE SPEIER e dos de JENSON. GUILLAUME LE BÉ, discípulo de GARAMOND, entre 1541 e 1550 esteve em Veneza e sem duvida forneceu tipos franceses aos impressores venezianos. E foi outro francês, ROBERT GRANJON, que talhou, para uma nova oficina ligada à Santa Sé, numerosos caracteres orientais e romanos, inspirados nos moldes de GARAMOND, numa estada de vários anos em Roma, a convite do papa Gregório XIII. Mas o itálico remonta ao de ARRIGHI, via de regra. GARAMOND fez pelo menos um ensaio com tipos deliberadamente copiados dos itálicos aldinos e imprimiu com eles três ou quatro livros por 1545, que parece agradaram ao gosto do tempo. O itálico, em realidade, já desde então tende a ser reservado para as matérias preliminares, para a citação e para a ênfase. Observe-se também que, por 1540, a caixa alta das fontes itálicas são inclinadas, enquanto as de ARRIGHI e de ESTIENNES são verticais (cf ENBR, s.v. printing type; MART, cap VIII; STEI, 37-76)."

Para ler mais sobre o texto completo de Houaiss, clique aqui.



Nenhum comentário: