domingo, julho 8

Marginalia entrevistado...

Recentemente o blog portugues Reactor, mantido pelo Professor e Investigador em Design e Cultura Visual José Bártolo, entrevistou-nos. Segue aqui a entrevista na íntegra

O Marginalia, um excelente blog abrangendo vários temas da cultura contemporânea e, particularmente, centrado na tipografia nasceu, nas palavras do seu autor, “da crença num mundo que se comunica pela força da palavra, mas, mais ainda, pela força das imagens.
O Reactor atravessou o Atlântico para conversar com Paulo W o blogger responsável pelo Marginalia.

REACTOR: Perante a crise dos projectos colectivos em design e o protagonismo de discursos individuais, poderá a blogosfera funcionar como espaço de construção e debate crítico colectivo em torno do design?

PAULO W: Não sou um expert em comunicação web e sites. A Minha opinião é empírica. Os poucos projectos que tentei fazer coletivamente ou fracassaram totalmente ou andam a passos de tartaruga. É fruto de uma situação sistémica? Não sei. Mas quando convido outros internautas para projectos em conjunto a resposta cordial que recebo é aquela que faculta ao excesso de trabalho e pouco tempo para embarcar nestes projectos colectivos. Os projectos individuais parecem absorver as pessoas em demasia. Da mesma forma quase nunca recebo convites para projectos colectivos, o que reforça o que acabei de falar, na via oposta. No Brasil existem algumas listas de discussão de design e tipografia aparentemente bem sucedidas (considerando-se o volume de mensagens), nas quais eu participo, mas sinceramente não posso referendar o teor de discussão dos referidos grupos. Tratando-se efectivamente da blogosfera desconheço projectos importantes no Brasil. Então penso que talvez a blogosfera funcione muito bem como painel de ideias e como aquele neurónio que faz a sinapse entre outros neurónios na criação de um inconsciente colectivo. Os links sérios entre blogs e trabalhos sérios são muito importantes e de facto construtivos. Uma prova disso foi eu ter conhecido dois blogs que actuam em áreas semelhantes `a do Marginalia - que eu poderia chamar de irmãos distantes - cujos projectos, em muito semelhantes ao meu, eu desconhecia. Falo do Giornale Nuovo e do Bibliodissey.
Assim sendo, tentando concluir. Acho que o debate - em torno do design, por exemplo - se faz na blogosfera em ilhas de esparsa sabedoria. Contudo, na área em que actuo mais especificamente, a Tipografia, os vínculos são mais fortes. Talvez pelo carácter histórico e corporativo deste artesanato precursor do design moderno - teoria minha.

REACTOR: Estão os blogs a tornar possível um diálogo lusófono (envolvendo Portugal, Brasil e os países africanos de língua portuguesa) sobre questões culturais e sociais?

PAULO W: Sim, isto é um facto. De facto agora tenho muitos amigos em Portugal impossíveis outrora de os ter. Falo por exemplo do Mario Nunes, meu correspondente em alguns projetos e defensor da Blogosfera. E aqui mesmo no Brasil a comunidade portuguesa começa a aparecer desta outra maneira, via web, tenho por exemplo contactos com o Aníbal Bragança, professor português radicado no Brasil que actualmente estuda a história da imprensa e das casas editoras no Brasil. Os brasileiros e portugueses não tinham, até há décadas atrás, aquela cumplicidade que vemos entre norte-americanos e ingleses, nem a nível de povo, muito menos a nível de governos. Isto agora começa a mudar e penso realmente que os falantes do português, espalhados pelos cinco continentes, deveriam se orgulhar cada vez mais da língua que falam. Assim as questões sócio-culturais seriam uma etapa natural de entrosamento. Mas isto já está acontecendo, pelo menos na Blogosfera.

REACTOR: Há cada vez mais projectos e iniciativas que nasceram em blogs e que depois se realizam off-line. Será este um sinal da força que os blogs actualmente possuem?

PAULO W: Concordo. Mas os projectos e iniciativas nascidos em blogs ainda não têm visibilidade nos outros meios de comunicação. E isto atrasa o desenvolvimento dos projectos. Penso que a categoria "escritor de blogs" ainda não é reconhecida entre os académicos. Mas fiquem certos que neste momento mesmo exímios escritores estão treinando em seus blogs um novo tipo de literatura.

REACTOR: Quais são os seus projectos futuros?

PAULO W: Dedicação contínua à tipografia e pesquisa das escritas e tipos. E a manutenção do Marginalia. Paralelamente acalento um projecto ousado mas que tem se arrastado - que é o desenvolvimento do maior portal em língua portuguesa sobre tipografia e fontes. Disto tudo nasceu em mim um gosto pela bibliofilia que eu não o tinha antes. Conhecendo-se os tipos tem-se de apaixonar cada vez mais pelos livros - o seu suporte. Plagiando Neruda: "Este é o livro, se se acaba tudo em mim acaba".

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