segue aqui a transcrição de excertos de um bate papo que tive com Will, e o faço pois acho que há coisas legais aqui que merecem uma discussão ampliada:
PW
(...) durante o periodo nazista as blackletter sofreram perseguição ideologica no mundo (pelas minhas leituras), pois foram associadas ao regime nazista. hoje existe um renascimento da tipografia gotica fraktur. sempre foram utilizadas na America do Norte principalmente em titulos de jornais, mas não apenas. Hoje, pelo que sei, uma quantidade consideravel de jornais americamos, inclusive tradicionais, tem seus titulos com letras fraktur segundo a tradição minha pergunta aos aficcionados por tipografia é se sabem se durante o periodo da II Guerra os jornais mudaram seus cabeçalhos excluindo as fraktur?
WILL
Na Alemanha acredito que sim, no pós-guerra, justamente pelo estigma da associação com o regime. No resto do mundo, creio que é preciso considerar de que tipo gótico se trata. Também não dá para afirmar que houve o abandono sistemático do uso de tipos góticos em títulos de jornais de outras partes do mundo por força de tal relação. Tradicionalmente, na Alemanha, considera-se como tipos locais o schwabacher e o fraktur, em larga escala, mesmo que não tenham sido estes os utilizados pela propaganda e burocracia do regime nazista - que posteriormente também rejeitou a utilização do schwabacher, considerado um tipo de origem judaica (erroneamente e por pura conveniência, já que a utilização de tipos góticos tornou-se dificultada pela carência de impressores, tipos e pela impropriedade de várias aplicações, considerando-se legibilidade e comunicação durante a guerra). Porém, tipos góticos também são derivados de outras escrituras - textura e rotunda por exemplo, compondo junto com os tipos alemães o leque básico do que se costuma chamar de blackletters. Boa parte dos títulos de jornais são derivados da textura, que teve origem em outras partes da Europa, principalmente no norte. Dos títulos norte-americanos o do "The New York Times" é o mais famoso, mantido por tradição até hoje - e tradição é o que deve sustentar o seu uso nos demais jornais, a meu ver. Sobre o renascimento, sim, há um crescente interesse por parte dos tipógrafos tanto na história como na criação de blackletters. Já quanto aos designers talvez permaneça o estigma e a falta de informação a respeito desses tipos, contribuindo para a diminuição do seu uso corrente, cada vez mais raro - apesar da Rebook. ;-)
PW
Não me ficou claro, entretanto, se voce sabe de um declinio no uso (mesmo que temporario) durante a Segunda Guerra nos jornais americanos. aliás acho que os americanos são os que mais usam estes tipos em suas publicações o que se explica tambem pela sua tradição em letras display e de publicidade desde o século XIX (George Bruce, por exemplo). Bruce criou varios tipos goticos e fraktur para a imprensa e publicidade norte-americanas.
WILL
Paulo, eu não sei se houve declínio durante a guerra, mas eu acredito que não, e talvez colabore o fato de nos Estados Unidos os jornais utilizarem sempre os tipos baseados na "textura" (Old English). Vários jornais continuam usando-os até hoje. A resposta que você procura, entretanto, exige pesquisa. Como a Alemanha não abandonou as blackletters até o século XX, inclusive como tipo de texto corrido, é natural para nós associá-las ao país, ainda mais com a força do nazismo. Porém, não dá para ignorar toda uma história da escrita e da tipografia, as blackletters tiveram grande importância e utilização na Grã-Bretanha e Holanda até o século 17. Bruce, que você citou, era escocês. Há um legado cultural em outros países também. E eu errei: é Reebok e não Rebook.
PW
a origem escotica do Bruce eu sabia, queria apenas comentar a influencia de seus tipos na publicidade americana. os legados culturais são vastos e interdependentes. alem da Holanda e Inglaterra que voce cita tambem na peninsula iberica os tipos visigoticos perduraram por muito tempo. acredito que apenas em Italia e França a tradição gotica tenha sido mais fortemente combatida, primeiro pela aparição mesmo dos tipos romanos e italicos (Manutius, Arrighi) e depois, seguindo a tradição humanista, as letras de Didot e Bodoni, pela propria força do carater moderno e inovador de seus trabalhos se impuseram mais ainda a tradição gotica nestes paises lembrando a citação que fez de Inglaterra e Holanda eu lembrei-me mas nao escrevi na hora que estes paises foram dos primeiros a embarcar no protestantismo (ainda que na Inglaterra ele tenha uma origemmais prosaica com os interesses de Henrique VIII) e que justamente os protestantes adotavam a tipografia gotica em seus impressos para serem mais facilmente discernidos dos impressos catolicos. (a fonte GeodecBruceOrnamented foi inspirada em fonte original de George Bruce e pode ser vista aqui)
WILL
Bem observado, Paulo, porque o protestantismo está intrinsecamente ligado às blackletters. Tanto a Bíblia como diversos textos de Lutero foram deliberadamente impressos em schwabacher como oposição à Igreja Romana e, junto com o fraktur, disseminados pela Europa (principalmente nas regiões de fala e influência germânicas). Associe também ao enfrentamento religioso a facilidade de produção em madeira (e consequente popularização). Curioso que, na Inglaterra e Holanda, o tipo textura (que, como rotunda, são fortemente associados ao catolicismo) continuou a se desenvolver, chegando até o trabalho de Caslon e Fleischmann por exemplo, apesar do protestantismo
PW
não me ficou claro se alem de inteligente e culto voce tambem faz tipografia... no entanto, se quiseres contribuir em meu site (se isto não for contra seus interesses e/ou tempo disponivel) com quaisquer textos sobre tipografia será bem-vindo estou com o passar do tempo tentando arregimentar uma inteligentsia nacional em torno de tipografia. sei que outros fazem isto no Brasil, melhor e há mais tempo. mas eu tento com a minha parte. meu projeto ainda esta em seus começos, mas eu me dedico em mais de 60 por cento de meu tempo a tarefa, portanto acho que um dia terminara por dar certo se não for conveniente por x motivos entenderei completamente, e reafirmo ter sido bom conversar contigo sobre o assunto abraços
WILL
Hehehe, obrigado pelo elogio, estendo o mesmo a você. Sim, eu faço tipografia como hobby, não profissionalmente, eu já havia conversado com você sobre isso antes em outra oportunidade, por isso não respondi quando perguntou novamente. Paulo, eu agradeço, mas não tenho - pelo menos no momento - tempo para contribuir. Porém, se tiver algum material no futuro, contribuirei com o maior prazer. E grato também pela conversa. abraços (will)
PW
eu ja estava me lembrando de voce e da conversa anterior. foram dicas valiosas que tinha me dado sobre os tramites para levar arquivos (glifos) do corel para o fontlab, não é isso? estou usando agora tambem o fontographer de maneira que faço um pouco mais de mexes daqui para li entre formatos e softwares mas o resultado final vai melhorando com o tempo foi bom conversar de novo ate as proximas
PW
(...) durante o periodo nazista as blackletter sofreram perseguição ideologica no mundo (pelas minhas leituras), pois foram associadas ao regime nazista. hoje existe um renascimento da tipografia gotica fraktur. sempre foram utilizadas na America do Norte principalmente em titulos de jornais, mas não apenas. Hoje, pelo que sei, uma quantidade consideravel de jornais americamos, inclusive tradicionais, tem seus titulos com letras fraktur segundo a tradição minha pergunta aos aficcionados por tipografia é se sabem se durante o periodo da II Guerra os jornais mudaram seus cabeçalhos excluindo as fraktur?
WILL
Na Alemanha acredito que sim, no pós-guerra, justamente pelo estigma da associação com o regime. No resto do mundo, creio que é preciso considerar de que tipo gótico se trata. Também não dá para afirmar que houve o abandono sistemático do uso de tipos góticos em títulos de jornais de outras partes do mundo por força de tal relação. Tradicionalmente, na Alemanha, considera-se como tipos locais o schwabacher e o fraktur, em larga escala, mesmo que não tenham sido estes os utilizados pela propaganda e burocracia do regime nazista - que posteriormente também rejeitou a utilização do schwabacher, considerado um tipo de origem judaica (erroneamente e por pura conveniência, já que a utilização de tipos góticos tornou-se dificultada pela carência de impressores, tipos e pela impropriedade de várias aplicações, considerando-se legibilidade e comunicação durante a guerra). Porém, tipos góticos também são derivados de outras escrituras - textura e rotunda por exemplo, compondo junto com os tipos alemães o leque básico do que se costuma chamar de blackletters. Boa parte dos títulos de jornais são derivados da textura, que teve origem em outras partes da Europa, principalmente no norte. Dos títulos norte-americanos o do "The New York Times" é o mais famoso, mantido por tradição até hoje - e tradição é o que deve sustentar o seu uso nos demais jornais, a meu ver. Sobre o renascimento, sim, há um crescente interesse por parte dos tipógrafos tanto na história como na criação de blackletters. Já quanto aos designers talvez permaneça o estigma e a falta de informação a respeito desses tipos, contribuindo para a diminuição do seu uso corrente, cada vez mais raro - apesar da Rebook. ;-)
PW
Não me ficou claro, entretanto, se voce sabe de um declinio no uso (mesmo que temporario) durante a Segunda Guerra nos jornais americanos. aliás acho que os americanos são os que mais usam estes tipos em suas publicações o que se explica tambem pela sua tradição em letras display e de publicidade desde o século XIX (George Bruce, por exemplo). Bruce criou varios tipos goticos e fraktur para a imprensa e publicidade norte-americanas.
WILL
Paulo, eu não sei se houve declínio durante a guerra, mas eu acredito que não, e talvez colabore o fato de nos Estados Unidos os jornais utilizarem sempre os tipos baseados na "textura" (Old English). Vários jornais continuam usando-os até hoje. A resposta que você procura, entretanto, exige pesquisa. Como a Alemanha não abandonou as blackletters até o século XX, inclusive como tipo de texto corrido, é natural para nós associá-las ao país, ainda mais com a força do nazismo. Porém, não dá para ignorar toda uma história da escrita e da tipografia, as blackletters tiveram grande importância e utilização na Grã-Bretanha e Holanda até o século 17. Bruce, que você citou, era escocês. Há um legado cultural em outros países também. E eu errei: é Reebok e não Rebook.
PW
a origem escotica do Bruce eu sabia, queria apenas comentar a influencia de seus tipos na publicidade americana. os legados culturais são vastos e interdependentes. alem da Holanda e Inglaterra que voce cita tambem na peninsula iberica os tipos visigoticos perduraram por muito tempo. acredito que apenas em Italia e França a tradição gotica tenha sido mais fortemente combatida, primeiro pela aparição mesmo dos tipos romanos e italicos (Manutius, Arrighi) e depois, seguindo a tradição humanista, as letras de Didot e Bodoni, pela propria força do carater moderno e inovador de seus trabalhos se impuseram mais ainda a tradição gotica nestes paises lembrando a citação que fez de Inglaterra e Holanda eu lembrei-me mas nao escrevi na hora que estes paises foram dos primeiros a embarcar no protestantismo (ainda que na Inglaterra ele tenha uma origemmais prosaica com os interesses de Henrique VIII) e que justamente os protestantes adotavam a tipografia gotica em seus impressos para serem mais facilmente discernidos dos impressos catolicos. (a fonte GeodecBruceOrnamented foi inspirada em fonte original de George Bruce e pode ser vista aqui)
WILL
Bem observado, Paulo, porque o protestantismo está intrinsecamente ligado às blackletters. Tanto a Bíblia como diversos textos de Lutero foram deliberadamente impressos em schwabacher como oposição à Igreja Romana e, junto com o fraktur, disseminados pela Europa (principalmente nas regiões de fala e influência germânicas). Associe também ao enfrentamento religioso a facilidade de produção em madeira (e consequente popularização). Curioso que, na Inglaterra e Holanda, o tipo textura (que, como rotunda, são fortemente associados ao catolicismo) continuou a se desenvolver, chegando até o trabalho de Caslon e Fleischmann por exemplo, apesar do protestantismo
PW
não me ficou claro se alem de inteligente e culto voce tambem faz tipografia... no entanto, se quiseres contribuir em meu site (se isto não for contra seus interesses e/ou tempo disponivel) com quaisquer textos sobre tipografia será bem-vindo estou com o passar do tempo tentando arregimentar uma inteligentsia nacional em torno de tipografia. sei que outros fazem isto no Brasil, melhor e há mais tempo. mas eu tento com a minha parte. meu projeto ainda esta em seus começos, mas eu me dedico em mais de 60 por cento de meu tempo a tarefa, portanto acho que um dia terminara por dar certo se não for conveniente por x motivos entenderei completamente, e reafirmo ter sido bom conversar contigo sobre o assunto abraços
WILL
Hehehe, obrigado pelo elogio, estendo o mesmo a você. Sim, eu faço tipografia como hobby, não profissionalmente, eu já havia conversado com você sobre isso antes em outra oportunidade, por isso não respondi quando perguntou novamente. Paulo, eu agradeço, mas não tenho - pelo menos no momento - tempo para contribuir. Porém, se tiver algum material no futuro, contribuirei com o maior prazer. E grato também pela conversa. abraços (will)
PW
eu ja estava me lembrando de voce e da conversa anterior. foram dicas valiosas que tinha me dado sobre os tramites para levar arquivos (glifos) do corel para o fontlab, não é isso? estou usando agora tambem o fontographer de maneira que faço um pouco mais de mexes daqui para li entre formatos e softwares mas o resultado final vai melhorando com o tempo foi bom conversar de novo ate as proximas
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