quinta-feira, junho 29

O que é um livro de horas?

No final da Idade Média manifesta-se a necessidade de um livro tornando acessível aos leigos certos elementos do breviário utilizado pelos padres. De acordo com este modelo litúrgico desenvolveu-se lentamente, durante o século XIV, um livro de devoções privadas que retoma o papel anterior do saltério.

A pesar das variações de formato e da abundância de ilustração, todos os Livros de Horas são concebidos segundo um mesmo esquema, que, no entanto, sofre exceções: começam com um calendário elaborado exclusivamente em função das festas religiosas. Seguem-se numerosas preces. Estas, compostas em grande parte de salmos, seguem o ritmo cotidiano — as matinas, laudas, prima, tércia, sexta e nôa, as vésperas e as completas escalonam o dia.


O livro de horas foi o best seller da baixa Idade Média, sendo que seu uso sempre ficou limitado à leitura privada, alheia às cerimônias públicas e coletivas. Todos tinham seu Livro de Horas, muitas vezes o único da estante. Mesmo os analfabetos, que decoravam suas orações. Modestos ou suntuosos, exerceram um papel de suma importância social, seja como cartilha para o aprendizado da leitura, seja como símbolo da riqueza de seus possuidores — podiam valer tanto quanto grandes propriedades, até figuravam nos inventários.


Com o Livro de Horas a iluminura alcançou o pináculo da perfeição, assim como um esplendor jamais igualado. Beneficiou-se da conjunção de numerosos grupos de artistas excepcionais com duas ou três gerações de príncipes bibliófilos, opulentos e generosos.


As Riquíssimas Horas do Duque de Berry

O mais conhecido e o mais belo entre os Livros de Horas, foi executado, por encomenda do duque, pelos irmãos Limbourg. O duque e os artistas, porém, morreram antes do término da obra, cujas miniaturas exibem, num colorido luminoso, admiráveis representações da vida cotidiana.

Dentre as originalidades da obra, os especialistas apontam a prioridade dada às paisagens, tratadas com um realismo extremo. Pela primeira vez, a paisagem é vista como um motivo independente: as cenas se desenvolvem sob um céu anilado, em contraste com uma arquitetura perfeitamente delineada. É a descoberta do céu como elemento expressivo e, ao mesmo tempo, a descoberta da superfície da Terra como palco onde se desenrolam cenas da vida cotidiana.(ilustração: janeiro, livro de horas de Bérry)


O Mecenas
Cnhecido como O Príncipe dos Bibliófilos, João de França, Duque de Berry (1340-1416), filho, irmão e tio de reis de França, não deixou boa lembrança como político e governante. Mas era um profundo apreciador das artes, e possuía imensa fortuna. Colecionador apaixonado de obras artísticas (colecionava castelos, rubis, avestruzes...) reservava o melhor de seu entusiasmo para os Livros, principalmente os iluminados, que comprava ou mandava copiar e ornar, ele mesmo orientando todas as fases do trabalho, já que dominava os segredos do ofício e era homem de gosto apurado. Reunindo a seu redor os artistas mais famosos da época, conseguiu formar a mais luzidia coleção particular de manuscritos de todos os tempos, que incluía nada menos que 15 Livros de Horas, 14 Bíblias, 16 saltérios, 18 breviários e 6 missais.

Os Iluminadores
D esde o século XII, começaram a instalar-se nas principais cidades européias vários ateliês laicos de iluminura, formados por profissionais que paulatinamente foram arrebatando às comunidades religiosas a edição de manuscritos — pondo fim ao secular monopólio eclesiástico. As Riquíssimas Horas foram pintadas pelos três irmãos Limbourg — Paul, Hermann e Jean, artistas flamengos contratados pelo duque de Berry por volta de 1405. Os Limbourg utilizaram uma grande variedade de cores obtidas através de minerais, plantas ou produtos químicos, misturados com goma arábica para ligar a tinta. Entre as cores incomuns que utilizaram estão o verde íris, obtido esmagando-se flores e massicote (óxido de chumbo), o azul ultramarino, feito de lapis-lazuli orientais triturados. Esta cor era usada para representar os azuis brilhantes. Era, evidentemente, de um valor inestimável! Os detalhes extremamente precisos são característicos do estilo dos Limbourg, que exigia lupas e pincéis finíssimos.

Referências aos Livros de Horas também podem ser encontrados nos livros de José Teixeira de Oliveira, Gombrich, Janson e Seligman, constantes na bibliografia.

Um bom site brasileiro sobre a história do livro e assuntos relacionados é o Escritório do Livro.

boa parte destas informações provêm do site
http://www.geocities.com/Vienna/Strasse/3356/berry.htm

e foram traduzidas por Bárbara Leal A. Guimarães, Heliana Lacerda Dal Fabro, Luciana Ferro Borini, Maria da Graça Oliveira, Maria Tereza Shaedler, Mario Lourenço Thevenet, Marise Didoné, Ricardo Jorge Wolff, Simone Maria Losso, alunos de Tradução do Curso de Nancy II da Aliança Francesa de Florianópolis.

este conteúdo foi obtido em páginas do Escritório do Livro
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