sábado, março 31

do conhecimento como um alucinógeno... homo digitalis

já comentei em algum lugar sobre um ensaio publicado décadas atrás na Correio da Unesco, que comentava sobre os esforços franceses em museografia - os computadores ainda estavam engatinhando nos processos de digitalização hoje conhecidos e praticados -.

pois bem. os diligentes franceses guardavam em seus museus "para o futuro" exemplares de todos os jornais, todas as revistas, todos os cartazes, todos os livros e assim por diante. cartazes em dimensões gigantes de publicidade eram cuidadosamente dobrados e conservados.

a idéia parece boa. mas voce e eu temos certeza de que jamais existirão no futuro "pesquisadores" que possam se deter sobre toda esta massa de conhecimento que estamos acumulando. a tese, enfim, do ensaio, era que a produção, a armazenagem e o consumo de conhecimento em progressão geométricas denunciavam ser o conhecimento não um meio, mas um fim em si mesmo. o conhecimento seria um ALUCINÓGENO, que nos pede que aumentemos sempre cada vez mais a dosagem de uso.

e eu vou citar um exemplo. fiz o balanço de minhas imagens (frutos de pesquisa bibliófila e tipográfica) em meu computador usando o Picasa, que até há pouco nunca tinha tido o interesse de usar. e descobri possuir a assombrosa marca de 124.000 (cento e vinte e quatro mil) imagens para pesquisas. quantos milhares de anos me seriam precisos para estudar e criar mais conhecimento a partir destas 124.000 imagens?

e, no entanto, quando penso em deletar 10% das imagens de uma qualquer de minhas 733 (setecentas e trinta e tres) pastas faço-o com um pesar tremendo.

é isto: isto chama-se entropia, e é um dos sintomas da dependência do alucinógeno chamado "conhecimento".

como num clube de alcóolatras anonimos divido minhas experiencias de drogado aqui, neste blog, o Marginalia. e este foi o primeirto de uma nova série de posts sobre o Homo Digitalis, aquilo em que nos estamos tranformando

Imagens de Mihaly Zichy, em Bibliodissey
ou em
ArteErotismo

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