Os muitos artistas que vivem em Rafic Farah
Designer gráfico, arquiteto, fotógrafo, escritor, escultor... Especialização definitivamente não interessa a este artista que se define como "um artesão-biscate que comercializa aquilo que produz com as mãos". Sempre em busca de novas criações, ele quer investir em uma outra paixão, a música. (Maurício de Souza/AE)
Rafic Farah: formado em Arquitetura, sonhava com cinema. O prestígio veio como designer gráfico - embora ele deteste a palavra "designer"
Na introdução de seu livro Como Vi o Design, Rafic Farah escreve que se trata de "um portfólio sucinto de vários anos de atividades profissionais, várias". Várias, realmente. Rafic Farah, 52 anos, é um dos maiores nomes do design gráfico brasileiro, seus logotipos estão em marcas de moda como Fit, Lucy in the Sky, Vivavida e Abuse Use (C&A), e em restaurantes da cidade como Tambor, América, Cristal, Mr. Fish Grill, Arábia e Spot. Farah já assinou catálogos para grifes de peso do mundo fashion brasileiro como Daslu e Zapping, entre outras.
Formado em Arquitetura, no fundo queria ser roteirista de cinema. No entanto, foi com o design gráfico que começou a fazer carreira e a ganhar prestígio. Mas ele tem ojeriza à palavra designer e continua irrequieto. Para este ano, ele planeja fazer uma ópera popular, aprender a tocar violão para compor música – outra de suas paixões –, continuar a fotografar, desenhar e escrever um livro de contos e, algum dia, assumir de vez seu lado escritor. Ele admite ser pretensioso e sabe que para fazer tudo o que gostaria precisaria de mais de uma vida. Segundo suas palavras, "a especialização engessa a criatividade... e ser moderno é ter essa pluralidade".
Você já desenhou mesa, luminária. Faz escultura, performance, cinema e design gráfico. E, agora, um livro autobiográfico. Você tem múltiplas personalidades?
Numa entrevista, João Gilberto disse que tenta se livrar do temperamento dele porque só atrapalha. Eu acho que tenho cada vez menos personalidades, que estão se firmando em uma única. Meu temperamento está mais "temperado", mais brando. Sou menos temperamental agora.
E o livro?
Pela primeira vez tento expor, por meio do texto do livro, mais o meu coração para as pessoas que conheciam, até então, só as imagens que crio. Talvez isso seja uma nova personalidade. Já li que alguns romancistas sofrem ao escrever. Ao recolher o material para o livro, vivi momentos de angústia, relembrando a dificuldade ao fazer os trabalhos, mas, por outro lado, percebi que havia muito humor na idealização e na produção deles.
Você falou que sua personalidade está se firmando em uma única. Mas ela vai conseguir segurar todas as suas facetas criativas?
A criação é uma só. Tento o tempo todo estar criando alguma coisa. No momento, estou tocando a obra da minha casa. Ando em cima de andaimes e sinto, quando pulo de um para o outro – a dois, três metros de altura –, que de alguma maneira estou criando a coreografia de uma dança e percebo que todos os operários também estão criando um movimento rítmico. Uma obra é uma ópera. Tenho um projeto com a Loira, cenógrafa, de criar uma ópera de uma obra. Vamos documentar uma construção numa ópera não-hermética para atingir um público grande. É um projeto para este ano.
Você se considera um designer?
Nesses anos todos não venho levando muito a sério essa coisa do design. Tenho ojeriza à palavra design.
Em seu livro há uma frase do Décio Pignatari: "Em design interessa o que não é design".
O Chico Homem de Mello trouxe essa frase para o livro. Desde que se criou a palavra design, ficou tudo muito pedante. Para o arquiteto ou para o desenhista, o desenho é um discurso sobre a sua visão do mundo. Para chegar a um desenho, você está olhando tudo o que não é desenho. O desenho é o resultado final de sua vivência.
Nesse leque de coisas, o que gosta mais de fazer?
O que é mais fácil para mim é escrever. Descrever cada trabalho e as coisas que me aconteceram na época foi a parte do livro que mais gostei de fazer.
Então está nascendo um escritor?
É muito pretensioso dizer que quero ser escritor. Mas tenho esse desejo. No momento, estou reescrevendo um livro de contos e imagens para lançá-lo este ano. São contos provenientes de alguns sonhos que tive – tenho uns 80 sonhos anotados e desses extraí sete –, e estou fantasiando um pouco mais.
Mas você queria ser roteirista de cinema.
É verdade, e no livro algumas páginas parecem storyboards. Em 1973, escrevi um roteiro que se chamava "As Incríveis Aventuras do Capitão Bandeira", que extraí de um filme do Antonio Calmon. Naquela época, eu pretendia ser roteirista ou diretor de cinema.
E o que aconteceu com o aventureiro Capitão Bandeira?
Capitão Bandeira foi lançado dez anos depois de escrito, como história em quadrinhos, numa época em que o cinema nacional estava meio morto. Fez um grande sucesso. Em uma semana, eu e o Paulo Caruso esgotamos 4.500 exemplares. Vendeu bem, deu tudo certo e achei que minha carreira estava encerrada ali e resolvi abrir um estúdio de artes gráficas. Naquela época, eu achava que era mais ou menos um artista gráfico. Venho interrompendo várias profissões na minha vida, depois as retomo de outra maneira e vou me divertindo assim. Não quero ser tachado de fotógrafo, artista gráfico ou designer. Não quero especialização em nada. A especialização engessa a criatividade. Faz parte da cultura árabe, da qual sou proveniente, saber um pouco de tudo. Saber levantar uma parede, plantar uma árvore, escrever uma bela carta, bater uma foto, sintetizar uma imagem num desenho, construir uma mesa. Acho que tenho de saber fazer todas as coisas.
A questão é que vivemos em uma época que condiciona a pessoa a ter uma única profissão estampada no cartão de visita.
É essa americanização que exige que, quando se aperta o botão "arquiteto", surja um "arquiteto". No botão "capista", surge o capista. Este ano, vou participar de uma exposição, em Paris, de design gráfico e artes gráficas, e é muito difícil explicar a eles o que faço, por ter diversas atividades. De uma maneira geral, o brasileiro é um povo superdotado. A carência faz com que o brasileiro saiba se virar, faz parte da riqueza da nossa cultura. Fazemos muitas gambiarras, muitas coisas mal-acabadas. Meu trabalho é muitas vezes mal-acabado – o que vale, muitas vezes, é a idéia, e não cuido muito do acabamento. Infelizmente, tem uma onda que quer fazer parecer que nós não sabemos quase nada, mas nós é que sabemos tudo. Ser moderno é ter essa pluralidade.
Quando perguntavam a seu pai o que você fazia, ele respondia: biscate.
É exatamente isso: trabalho sob encomenda. As pessoas me ligam e pedem uma coisa – precisam de um logotipo, de um filme. Quando eu era estudante, trabalhava em tudo o que aparecia. Sou um artesão-biscate que comercializo aquilo que produzo com minhas mãos.
Com o que você ainda sonha mexer?
É muito pretensioso, mas tenho vontade de passar o final da minha vida como um pensador brasileiro.
Você é pretensioso?
Muito (risos).
Qual é sua formação?
Eu me formei arquiteto, mas acho que já era arquiteto desde criança. Meu pai era corretor de imóveis, cantor, cozinheiro, comerciante. As várias habilidades do meu pai fizeram com que eu desenvolvesse várias facetas. Escolhi fazer Arquitetura por ser um conjunto enorme de coisas e que acabou me abrindo mais ainda esse leque. Além do mais, a Arquitetura me deu conhecimento sobre história da arte, que é fundamental para minha formação.
Você se considera multimídia?
Como design, a palavra multimídia é interpretada com um certo status que acho equivocado. Sou um homem normal que teve oportunidade de cair dentro de um determinado meio e produzir os produtos de minha criação. Como eu, existem muitos aí pelo Brasil afora que são anônimos. O que acontece é que, como tenho o Sagitário na casa dez, isso me facilita a projeção social. Tenho facilidade de me projetar socialmente, embora nunca tenha adulado a mídia. Tenho uma sorte do diabo. Quando desenhei o logotipo da Pizzaria Cristal, não queria ser artista gráfico, e aí essa pizzaria fez sucesso e ingressei na área gráfica sem ter tido a menor intenção.
Você queria trabalhar como arquiteto?
Eu gostava muito mais de compor, de arquitetura e de cinema do que de desenhar. Achava chato desenhar.
Você toca o quê?
Não toco nada. Pegava um gravador e cantava ou tentava tirar umas notas no violão, gravava e um amigo meu transcrevia em notas musicais. Aprender a escrever música é uma das coisas que pretendo fazer este ano. Tenho vergonha de dizer tudo o que quero fazer.
Você tem projetos como arquiteto?
O único projeto construído é o da minha casa, em pau-a-pique. Agora, quero fazer uma de concreto.
Você é uma holding, Rafic Farah?
Imagine, preciso de um bom empresário e viver cem anos para dar tempo de fazer tudo. (risos)
O que você pensa ao ver seu trabalho na paisagem urbana?
Às vezes, acho o trabalho que faço meio inútil. No fundo, é para vender bugiganga. Com o que o mundo já produziu até agora dava para ficar sem produzir mais nada e pouparia o meio ambiente.
E São Paulo?
Os paulistanos sabem que São Paulo é horrível. Tem uma metade com cara de Maluf e a outra metade com cara de mulher. Acho lamentável a destruição dessa cidade ocorrida no governo do Maluf. Como eu trabalho com imagens, em determinados momentos tenho vergonha de ser paulistano.
Mas não tem esperança?
Acho que vamos ter de quebrar muito concreto para deixar essa cidade bonita como ela já foi um dia. Foi uma cidade prazerosa, agradável, com um clima ótimo. Espero que aqueles que votaram no Maluf saiam desse estado de ignorância e vejam o que ele fez contra a cidade.
E a mulher?
Acredito que estamos num momento em que as coisas serão geridas – não administradas, geridas de gestação – por mulheres. Doravante as mulheres vão deixar o mundo mais feminino. A grande mudança política, econômica e social da humanidade é a ascensão feminina ao poder e a mudança da estrutura do poder. O poder como conhecemos hoje foi criado pelos homens para os homens. Os prédios, objetos, ferramentas, carros, tudo foi desenhado por uma razão masculina para os homens. Acredito que agora o mundo será redesenhado por uma visão mais feminina.
A Marta Suplicy como prefeita já é um começo disso?
Não. A Marta é um sinal. A Erundina também. A Zélia foi o feminino corrompido. Muitas das mulheres que vão ascender imitaram os homens para ascender. Mas ainda teremos uma mulher muito delicada, como rainha do Brasil.
Como corre sangue árabe nas suas veias, contratar o Farah para desenvolver um logo é muito caro?
Não. Mais caro do que eu é o Alexandre Wollner, que é um papa. O Guto Lacaz é o João Gilberto das artes plásticas brasileiras e o Alexandre Wollner é o João Gilberto do design gráfico brasileiro. Eu estou mais para Jorge Ben (risos). Quem quiser um logotipo que vá durar dez anos tem de pagar pelos 20 anos que tenho de janela. Médico conhecido quando opera cobra 40 mil dólares. Meu logotipo é um pouco mais barato do que isso e ele vai usar a vida toda. Aqui em São Paulo, se o sujeito quer um logotipo bom, ele tem a mim e mais dois profissionais para procurar. Meu trabalho é tempo e criação, ele me dá prazer, mas trabalho por dinheiro também. No Talmud está escrito que o bom trabalho deve ser bem-remunerado. Ao nascer, estamos condenados a três coisas. Uma é a morte. Da outra, o casamento, alguns escapam (risos). E o trabalho.
Designer gráfico, arquiteto, fotógrafo, escritor, escultor... Especialização definitivamente não interessa a este artista que se define como "um artesão-biscate que comercializa aquilo que produz com as mãos". Sempre em busca de novas criações, ele quer investir em uma outra paixão, a música. (Maurício de Souza/AE)
Rafic Farah: formado em Arquitetura, sonhava com cinema. O prestígio veio como designer gráfico - embora ele deteste a palavra "designer"
Na introdução de seu livro Como Vi o Design, Rafic Farah escreve que se trata de "um portfólio sucinto de vários anos de atividades profissionais, várias". Várias, realmente. Rafic Farah, 52 anos, é um dos maiores nomes do design gráfico brasileiro, seus logotipos estão em marcas de moda como Fit, Lucy in the Sky, Vivavida e Abuse Use (C&A), e em restaurantes da cidade como Tambor, América, Cristal, Mr. Fish Grill, Arábia e Spot. Farah já assinou catálogos para grifes de peso do mundo fashion brasileiro como Daslu e Zapping, entre outras.
Formado em Arquitetura, no fundo queria ser roteirista de cinema. No entanto, foi com o design gráfico que começou a fazer carreira e a ganhar prestígio. Mas ele tem ojeriza à palavra designer e continua irrequieto. Para este ano, ele planeja fazer uma ópera popular, aprender a tocar violão para compor música – outra de suas paixões –, continuar a fotografar, desenhar e escrever um livro de contos e, algum dia, assumir de vez seu lado escritor. Ele admite ser pretensioso e sabe que para fazer tudo o que gostaria precisaria de mais de uma vida. Segundo suas palavras, "a especialização engessa a criatividade... e ser moderno é ter essa pluralidade".
Você já desenhou mesa, luminária. Faz escultura, performance, cinema e design gráfico. E, agora, um livro autobiográfico. Você tem múltiplas personalidades?
Numa entrevista, João Gilberto disse que tenta se livrar do temperamento dele porque só atrapalha. Eu acho que tenho cada vez menos personalidades, que estão se firmando em uma única. Meu temperamento está mais "temperado", mais brando. Sou menos temperamental agora.
E o livro?
Pela primeira vez tento expor, por meio do texto do livro, mais o meu coração para as pessoas que conheciam, até então, só as imagens que crio. Talvez isso seja uma nova personalidade. Já li que alguns romancistas sofrem ao escrever. Ao recolher o material para o livro, vivi momentos de angústia, relembrando a dificuldade ao fazer os trabalhos, mas, por outro lado, percebi que havia muito humor na idealização e na produção deles.
Você falou que sua personalidade está se firmando em uma única. Mas ela vai conseguir segurar todas as suas facetas criativas?
A criação é uma só. Tento o tempo todo estar criando alguma coisa. No momento, estou tocando a obra da minha casa. Ando em cima de andaimes e sinto, quando pulo de um para o outro – a dois, três metros de altura –, que de alguma maneira estou criando a coreografia de uma dança e percebo que todos os operários também estão criando um movimento rítmico. Uma obra é uma ópera. Tenho um projeto com a Loira, cenógrafa, de criar uma ópera de uma obra. Vamos documentar uma construção numa ópera não-hermética para atingir um público grande. É um projeto para este ano.
Você se considera um designer?
Nesses anos todos não venho levando muito a sério essa coisa do design. Tenho ojeriza à palavra design.
Em seu livro há uma frase do Décio Pignatari: "Em design interessa o que não é design".
O Chico Homem de Mello trouxe essa frase para o livro. Desde que se criou a palavra design, ficou tudo muito pedante. Para o arquiteto ou para o desenhista, o desenho é um discurso sobre a sua visão do mundo. Para chegar a um desenho, você está olhando tudo o que não é desenho. O desenho é o resultado final de sua vivência.
Nesse leque de coisas, o que gosta mais de fazer?
O que é mais fácil para mim é escrever. Descrever cada trabalho e as coisas que me aconteceram na época foi a parte do livro que mais gostei de fazer.
Então está nascendo um escritor?
É muito pretensioso dizer que quero ser escritor. Mas tenho esse desejo. No momento, estou reescrevendo um livro de contos e imagens para lançá-lo este ano. São contos provenientes de alguns sonhos que tive – tenho uns 80 sonhos anotados e desses extraí sete –, e estou fantasiando um pouco mais.
Mas você queria ser roteirista de cinema.
É verdade, e no livro algumas páginas parecem storyboards. Em 1973, escrevi um roteiro que se chamava "As Incríveis Aventuras do Capitão Bandeira", que extraí de um filme do Antonio Calmon. Naquela época, eu pretendia ser roteirista ou diretor de cinema.
E o que aconteceu com o aventureiro Capitão Bandeira?
Capitão Bandeira foi lançado dez anos depois de escrito, como história em quadrinhos, numa época em que o cinema nacional estava meio morto. Fez um grande sucesso. Em uma semana, eu e o Paulo Caruso esgotamos 4.500 exemplares. Vendeu bem, deu tudo certo e achei que minha carreira estava encerrada ali e resolvi abrir um estúdio de artes gráficas. Naquela época, eu achava que era mais ou menos um artista gráfico. Venho interrompendo várias profissões na minha vida, depois as retomo de outra maneira e vou me divertindo assim. Não quero ser tachado de fotógrafo, artista gráfico ou designer. Não quero especialização em nada. A especialização engessa a criatividade. Faz parte da cultura árabe, da qual sou proveniente, saber um pouco de tudo. Saber levantar uma parede, plantar uma árvore, escrever uma bela carta, bater uma foto, sintetizar uma imagem num desenho, construir uma mesa. Acho que tenho de saber fazer todas as coisas.
A questão é que vivemos em uma época que condiciona a pessoa a ter uma única profissão estampada no cartão de visita.
É essa americanização que exige que, quando se aperta o botão "arquiteto", surja um "arquiteto". No botão "capista", surge o capista. Este ano, vou participar de uma exposição, em Paris, de design gráfico e artes gráficas, e é muito difícil explicar a eles o que faço, por ter diversas atividades. De uma maneira geral, o brasileiro é um povo superdotado. A carência faz com que o brasileiro saiba se virar, faz parte da riqueza da nossa cultura. Fazemos muitas gambiarras, muitas coisas mal-acabadas. Meu trabalho é muitas vezes mal-acabado – o que vale, muitas vezes, é a idéia, e não cuido muito do acabamento. Infelizmente, tem uma onda que quer fazer parecer que nós não sabemos quase nada, mas nós é que sabemos tudo. Ser moderno é ter essa pluralidade.
Quando perguntavam a seu pai o que você fazia, ele respondia: biscate.
É exatamente isso: trabalho sob encomenda. As pessoas me ligam e pedem uma coisa – precisam de um logotipo, de um filme. Quando eu era estudante, trabalhava em tudo o que aparecia. Sou um artesão-biscate que comercializo aquilo que produzo com minhas mãos.
Com o que você ainda sonha mexer?
É muito pretensioso, mas tenho vontade de passar o final da minha vida como um pensador brasileiro.
Você é pretensioso?
Muito (risos).
Qual é sua formação?
Eu me formei arquiteto, mas acho que já era arquiteto desde criança. Meu pai era corretor de imóveis, cantor, cozinheiro, comerciante. As várias habilidades do meu pai fizeram com que eu desenvolvesse várias facetas. Escolhi fazer Arquitetura por ser um conjunto enorme de coisas e que acabou me abrindo mais ainda esse leque. Além do mais, a Arquitetura me deu conhecimento sobre história da arte, que é fundamental para minha formação.
Você se considera multimídia?
Como design, a palavra multimídia é interpretada com um certo status que acho equivocado. Sou um homem normal que teve oportunidade de cair dentro de um determinado meio e produzir os produtos de minha criação. Como eu, existem muitos aí pelo Brasil afora que são anônimos. O que acontece é que, como tenho o Sagitário na casa dez, isso me facilita a projeção social. Tenho facilidade de me projetar socialmente, embora nunca tenha adulado a mídia. Tenho uma sorte do diabo. Quando desenhei o logotipo da Pizzaria Cristal, não queria ser artista gráfico, e aí essa pizzaria fez sucesso e ingressei na área gráfica sem ter tido a menor intenção.
Você queria trabalhar como arquiteto?
Eu gostava muito mais de compor, de arquitetura e de cinema do que de desenhar. Achava chato desenhar.
Você toca o quê?
Não toco nada. Pegava um gravador e cantava ou tentava tirar umas notas no violão, gravava e um amigo meu transcrevia em notas musicais. Aprender a escrever música é uma das coisas que pretendo fazer este ano. Tenho vergonha de dizer tudo o que quero fazer.
Você tem projetos como arquiteto?
O único projeto construído é o da minha casa, em pau-a-pique. Agora, quero fazer uma de concreto.
Você é uma holding, Rafic Farah?
Imagine, preciso de um bom empresário e viver cem anos para dar tempo de fazer tudo. (risos)
O que você pensa ao ver seu trabalho na paisagem urbana?
Às vezes, acho o trabalho que faço meio inútil. No fundo, é para vender bugiganga. Com o que o mundo já produziu até agora dava para ficar sem produzir mais nada e pouparia o meio ambiente.
E São Paulo?
Os paulistanos sabem que São Paulo é horrível. Tem uma metade com cara de Maluf e a outra metade com cara de mulher. Acho lamentável a destruição dessa cidade ocorrida no governo do Maluf. Como eu trabalho com imagens, em determinados momentos tenho vergonha de ser paulistano.
Mas não tem esperança?
Acho que vamos ter de quebrar muito concreto para deixar essa cidade bonita como ela já foi um dia. Foi uma cidade prazerosa, agradável, com um clima ótimo. Espero que aqueles que votaram no Maluf saiam desse estado de ignorância e vejam o que ele fez contra a cidade.
E a mulher?
Acredito que estamos num momento em que as coisas serão geridas – não administradas, geridas de gestação – por mulheres. Doravante as mulheres vão deixar o mundo mais feminino. A grande mudança política, econômica e social da humanidade é a ascensão feminina ao poder e a mudança da estrutura do poder. O poder como conhecemos hoje foi criado pelos homens para os homens. Os prédios, objetos, ferramentas, carros, tudo foi desenhado por uma razão masculina para os homens. Acredito que agora o mundo será redesenhado por uma visão mais feminina.
A Marta Suplicy como prefeita já é um começo disso?
Não. A Marta é um sinal. A Erundina também. A Zélia foi o feminino corrompido. Muitas das mulheres que vão ascender imitaram os homens para ascender. Mas ainda teremos uma mulher muito delicada, como rainha do Brasil.
Como corre sangue árabe nas suas veias, contratar o Farah para desenvolver um logo é muito caro?
Não. Mais caro do que eu é o Alexandre Wollner, que é um papa. O Guto Lacaz é o João Gilberto das artes plásticas brasileiras e o Alexandre Wollner é o João Gilberto do design gráfico brasileiro. Eu estou mais para Jorge Ben (risos). Quem quiser um logotipo que vá durar dez anos tem de pagar pelos 20 anos que tenho de janela. Médico conhecido quando opera cobra 40 mil dólares. Meu logotipo é um pouco mais barato do que isso e ele vai usar a vida toda. Aqui em São Paulo, se o sujeito quer um logotipo bom, ele tem a mim e mais dois profissionais para procurar. Meu trabalho é tempo e criação, ele me dá prazer, mas trabalho por dinheiro também. No Talmud está escrito que o bom trabalho deve ser bem-remunerado. Ao nascer, estamos condenados a três coisas. Uma é a morte. Da outra, o casamento, alguns escapam (risos). E o trabalho.
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